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8.9.15

Ulisses

Ulisses
James Joyce
1914-1921
 Romance (??)

Este livro foi-me oferecido pelo Natal do ano passado. Assim que abri o presente, fiquei aterrorizada. Este é o oneroso livro que nunca ninguém que eu conheça conseguiu acabar de ler. A pessoa que mo ofereceu não conseguiu. Até o meu pai, meu exemplo e modelo enquanto leitor, não conseguiu. Mas, ainda assim, eu disse para mim própria... "Não passa de um livro, eu vou lê-lo". Recolhi coragem até agora. E, durante um mês que se revelou um verdadeiro inferno, prossegui a lê-lo. Por isso não houve comentários a livros durante este Agosto: estava presa no universo do Ulisses. Consegui? Bem, cheguei ao fim. Só me falta o posfácio, fica para mais tarde. Mas compreendi? Não sei. Gostei? Não sei.

A primeira coisa que devo dizer sobre este livro é que, em minha opinião, não é o tipo de narrativa que está feita para ser "percebida". Está feita, na verdade, para ser "percepcionada". A percepção que cada um de nós tem deste livro será, então, muito variada. É algo de tão confuso e sensorial que cada um terá a sua interpretação. Falarei, assim, da minha.

Existem três personagens centrais, embora um deles só apareça realmente no final. Começamos com Leopold Bloom, um homem que falha bastante na vida, que sai de casa para ir a um funeral. Algures no meio do caminho encontra-se com Stephen Dedalus e, penso eu, saem para beber copos em diversos locais, que envolvem bares e um barco (talvez). Durante este encontro (todas estas 700 páginas relatam apenas um percurso de 24 horas) eles discutem diversas coisas, que são repetidas até à náusea e que parecem ser algo sobre as próprias opiniões do autor. Alguns assuntos discutidos são, por exemplo:

  • Shakespeare
  • O teu deus é judeu
  • Upe
  • Corridas de cavalos (cavalo Ceptro)
  • Cães diversos
  • Prostitutas e a ciência do sexo
Tudo isto é feito num ambiente de surrealismo duro e agressivo, tornando a leitura numa batalha muito difícil de vencer, num exercício de paciência e na manifestação do desejo "quando será que vai fazer sentido". Porque na verdade nada faz muito sentido. Aparecem árvores que cantam, pessoas que gritam, cães que uivam, uma miríade de imagens e ruído de fundo que contribui para todo este pesadelo.

Pareceu-me que esta primeira parte (primeira e segunda partes, oficialmente, para além de um bom pedaço da terceira) são a manifestação de Bloom enquanto homem descontente com o seu casamento. A sua esposa é Molly e ela é vagamente referida ao longo de todo este texto, mas não sabemos muito sobre ela e, sinceramente, acabamos por nos esquecer da sua existência. Bloom liberta-se num ócio bêbado, envolvendo-se com pessoas de diversas estirpes, até - finalmente - se acalmar e chegar a casa, para beber um chocolate quente. Subitamente, o narrador muda: e agora é Molly. Ficamos a saber, de repente, que Molly também não está contente com o seu casamento.

Assim, o dia em que se passa toda esta história é uma espécie de revelação. "Ulisses" fez uma viagem pelo inferno, para regressar a casa e estar tudo errado. É exactamente o oposto da "Odisseia". Consideremos também, conforme vinha escrito na contracapa do livro, que o dia em que se passa esta história é o mesmo dia em que James Joyce conheceu a sua mulher. Assim, "Ulisses" é o oposto de James Joyce. O pesadelo poderia representar tudo aquilo que o autor viveu antes de conhecer a sua mulher. E, assim, o livro poderia ser uma muito estranha declaração de amor. Gostaria de pensar assim, talvez.

É o tipo de livro que necessita de várias leituras e bastante estudo para se poder interpretar convenientemente e para se ter uma compreensão absoluta sobre ele. Mas eu não o vou voltar a ler em tempo breve. Estou livre. Foi uma leitura muito intensa que nunca irei esquecer. Mas terminar foi um verdadeiro alívio.

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