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30.1.14

Onde Crescem Limas Não Nascem Laranjas

Onde Crescem Limas Não Nascem Laranjas
Amanda Smyth
2009
Romance

Já há algum tempo que não recebia um Ring do BookCrossing. Este foi o primeiro do ano.

O livro tinha-me atraído por causa do título. Quando vi o título original ("Black Rock"), questionei-me porque teriam mudado o nome. E ainda mais me questionei quando não encontrei a frase no livro, por mais atenção que tivesse ao momento em que deveria aparecer, indicado pela sinopse. Talvez não fosse atenção suficiente... Mais não gostei quando li a resenha da autora que, pelos vistos, é daquelas "profissionais" que são pagas para irem escrever um livro. Por experiência, o resultado desses esforços nunca é bom. No caso deste livro, não foi nada de fascinante.

Conta a história de Celia, uma jovem de Tobago (Trinidad e Tobago) a quem uma bruxa da aldeia dá informações bastante negativas sobre o futuro. Efectivamente, o futuro dela é bastante negativo. Muito sexual. E é neste ponto que eu acho que a narrativa peca por exagero. É conhecido que eu não aprecio por aí além cenas de sexo. Mas no caso deste livro elas não são sensuais. Na verdade, são muito pouco atractivas, quer a violação quer as cenas de amor. Fizeram-me impressão e eu simplesmente queria que tudo acabasse, pois são gráficas de forma pouco romântica e têm todas uma grande carga negativa. "Lamber como um cão" não é, claramente, a melhor maneira de caracterizar o sexo oral.

A história parece focar-se demasiado no sexo, nas cenas de "acção", sendo que a história acaba resumida e inconsequente. Cheira-me a continuação depois deste livro, mas se vier a existir quero evitá-la de todos os modos.

No entanto, nem tudo é negativo. A caracterização do espaço e da paisagem é luxuriante e apetitosa, quase dando vontade de tirar umas férias e ir visitar um lugar tão delicioso. Podem sentir-se as cores e os cheiros, até os sabores. Valeu a pena a viagem da autora para conhecer o lugar da sua história, porque - efectivamente - está muito bem descrito.

Enfim, um livro que poderá ser mais apreciado por senhoras que não tenham tanta vergonha interna como eu.

27.1.14

O Doutor Jivago

O Doutor Jivago
Boris Pasternak
1957
Romance

Duas coisas que não fazia há muito tempo. Uma, ler um livro desta dimensão. Seiscentas páginas de literatura pesada e complexa. Duas, ler um livro russo. Sim, seiscentas páginas pesadas, complexas e russas. Saberão certamente que, apesar de não ler frequentemente, tenho uma paixão assolapada pela literatura russa, sobretudo os clássicos. Considerando que este livro foi escrito ao longo de mais de trinta anos, começando nos anos 10, acho que o poderemos considerar um clássico. Isto poderia servir de justificação para o facto de eu ter gostado imenso desta história, mas não foi apenas por isso. É um excelente pedaço de literatura, sem tirar nem por.

A história é muito longa. Conhecemos o Doutor Jivago, Iuri Jivago, desde a sua infância até à sua morte. Numa Russia convulsionada pela revolução, primeiro a bolchevista depois a comunista, Jivago vive aventuras que nos parecem extraordinárias mas que, efectivamente, aconteceram. Não a um mas a muitos homens e mulheres que viveram por esta época. São histórias de sobrevivência, de desespero, de fuga. É a demonstração da luta pela felicidade e pela segurança em época suficientemente conturbada para não existirem perspectivas de futuro. O verdadeiro significado da expressão "viver um dia de cada vez". Para nós, que nunca estivemos perante tal situação, esta expressão parece um "sê feliz, não te preocupes com o futuro". Mas para eles, para Jivago, não havia futuro. Num dia estamos numa longa viagem de comboio com a nossa família, para escapar à miséria urbana. No dia seguinte somos raptados pelo exército e obrigados a lutar uma guerra que não é nossa.

Confesso que houve algumas partes que não pude compreender totalmente, devido ao meu desconhecimento sobre os acontecimentos da época. Pouco conheço da revolução Russa, apenas o que aprendi nas aulas de história. E mesmo assim foi muito pouca coisa. Conheço algo sobre o Gulag, devido ao livro com mesmo nome, mas isso foi pouco referido - apenas no epílogo. Fiquei curiosa para saber o que realmente aconteceu, pelo que procurarei uma não-ficção para complementar o meu parco conhecimento.

Mas nem tudo neste livro são desgraças revolucionárias. Jivago é atormentado por um amor duplo, dividido entre a sua esposa Tonia e uma mulher do passado, Larissa (Lara). A forma como esta relação dúplice está relatada, não nos faz odiar o personagem de forma alguma. Porque, neste livro, o amor é um sentimento puro, de tal forma sagrado que todas as relações fazem sentido, sem haver culpa nem necessidade de perdão.

A narrativa, muito simples e directa, é coroada por imagens extraordinárias das paisagens russas, passando por todas as estações, desde o perigoso Inverno ao ardente Verão. São imagens quase fotográficas de florestas, de céus, de animais, complementadas com sons, músicas, onomatopeias, poemas. Houve passagens que tive vontade de apontar para citar aqui, mas como este é um livro em papel (e não do Kobo), não tive maneira de o fazer. Perdi-as. Fiquei com pena.

Falando de poemas, o livro tem uma décima sétima parte que se compõe da poesia escrita por Jivago nos seus tempos de reflexão (que ainda são bastantes). Não gostei muito destes poemas, pois não transmitiam tanta beleza como a prosa do resto do livro. O que gostei mais foi o Madalena - II, apesar do seu teor religioso. Todos eles têm algo de religioso dentro deles, o que me pareceu um pouco anti-climático perante aquilo que conhecemos do personagem.

Em resumo, este livro é uma fantástica adição para a minha biblioteca. Transmite uma sensação de nostalgia e tristeza que poucas obras conseguem transcrever. É o relato pessoal de um regime injusto e demasiado real, um relato que valoriza o ser humano em detrimento de um sistema que o diminuía. Uma obra de arte. Mereceu o Nobel, mas Pasternak não o pôde aceitar. Era esse o nível de censura a que todos estavam expostos. E é graças a este tipo de literatura que se prova, uma e outra vez, que tudo isso está errado. Todas as coisas merecem ser relatadas e todas as pessoas merecem saber a verdade.

24.1.14

Revolutionary Girl Utena

Não sei se todos vós estão atentos à minha lista de cosplays... Se estão, saberão que o meu último cosplay e que o meu próximo cosplay são fruto do visionamento de uma série que adorei e que adoro. Hoje é dia de falar sobre esse anime. Também há um filme, mas tenho preferência clara pela série. Escrevi há pouco tempo, para o clube Critics and Conoisseurs, uma análise bastante completa, com a minha interpretação e projecção (um pouco abusiva e demorada) de ideias, sobre esta série. Irei agora transcrevê-la e traduzi-la para a nossa bonita língua, melhorando-a com isso. Espero que as vossas antenas da curiosidade já estejam levantadas. Porque hoje vamos falar de

Revolutionary Girl Utena



Quando vi Revolutionary Girl Utena pela primeira vez para o clube, estava à espera de algo muito parvo, ao qual não tomaria qualquer atenção. Lembro-me perfeitamente, até hoje, os quatro dias que passei a ver a série. O meu computador estava para arranjar, por isso vi tudo no portátil. Simplesmente, não podia parar. Tornou-se numa das minhas séries preferidas e é o meu exemplo fulcral para um "anime de desconstrução", no qual o género shoujo é analisado em peças. O resultado é uma obra de arte, que se excede em todos os aspectos.

Muitas pessoas podem argumentar que a história é repetitiva e que não tem foco ou sentido, Na verdade, posso concordar com isto. Numa primeira abordagem, Utena é certamente como uma "sopa" de conceitos, todos misturados numa imagem amorfa que não é de todo atractiva. Isto acontece porque uma pessoa tem de olhar para além da premisa: este anime não conta simplesmente uma história. É uma alegoria para a adolescência, mascarada por objectos simbólicos. Cada objecto representa algo e, todos juntos, eles caracterizam o crescimento do único personagem, Utena. Vou dar o meu melhor para explicar a minha perspectiva e espero que, com isso, todos possam olhar para o anime com outros olhos.

Primeiramente, "O Único Personagem".

Utena.








Utena é apresnetada como uma rapariga que quer ser o rapaz. Isto diz "a princesa que quer ser um príncipe". Acredito que isto não apenas representa a dúvida sexual que acontece a quase todos durante os doces anos da adolescência, mas também que o género, o sexo, é irrelevante. Seja uma princesa ou um príncipe, todos passam pelos mesmos problemas e é isso o que Utena representa. É uma personagem em branco, tabula rasa, e é o seu crescimento ao longo da série, enfrentado os vários problemas, que a torna numa pessoa sólida, num adulto. A série está dividida em três partes diferentes, que eu acredito representarem diferentes tipos de assuntos que temos de enfrentar durante o nosso crescimento como seres humanos. Primeiro, temos de nos enfrentar a nós próprios; depois, temos de enfrentar os outros; finalmente, temos de enfrentar o futuro. No final, salvaremos a "princesa" (nós próprios) ao atingir a realização final. Seremos adultos nessa altura.
 
A Associação de Estudantes - Eu



Na primeira parte da série, Utena tem de conquistar a Noiva Rosa (Rose Bride) - Anthy - enfrentando os membros da Associação de Estudantes. Vejo Anthy como "a bruxa" do conto de fadas, o oposto da polaridade, como o inimigo que Utena tem de ultrapassar para conseguir passar por cima dos seus próprios problemas e crescimento pessoal.

Isto para dizer que Anthy é a própria Utena. Anthy é tudo o que Utena tem de conquistar; é tudo o que a Associação de Estudantes representa, todos juntos numa úncia pessoa. Ela também é tudo que Utena tem de salvaguardar, como veremos nos outros arcos, porque assim que nos aceitamos a nós próprios temos de nos manter firmes e usá-lo em nosso favor.

Agora, o que é que a Associação de Estudantes representa? Cada história prgressa dá-nos uma ideia sobre que tipo de objecto são estes elemtnos. Gosto de fazer uma conexão com a lenda dos sete vícios capitais (erradamente conhecidos por sete pecados mortais, esses são só três), em que Anthy é o vício final. Cada um deles representa algo que é um defeito nosso e que temos de aceitar e reduzir. Derrotar. Vejamos:

Juri - Ciúme. Juri está escondida por trás de uma máscara de nobreza, quando na realidade está roída de desespero causada pelas suas relações.

Kaoru - Gula. As pessoas comem muito, muitas vezes porque se sentem inseguras, daí a minha (não assim tão evidente) conexão. Mesmo quando és excelente na prática que escolheste, podes não ter certezas na tua confiança.

Touga - Avareza. O membro mais poderoso da Associação de Estudantes, que quer ter ainda mais poder.

Nanami - Orgulho. A senhora que não deixa que nada lhe aconteça, que acredita que é poderosa e, na realidade, é tão frágil como todos os outros.

Saionji - Raiva. Ele sente tanta raiva em relação à Noiva Rosa que perde o foco e acaba por perder.

Tsuchiya - Inveja. Um sentimento qeu está muito relacionado com o ciúme, que também se relaciona com a influência deste elemento sobre Juri. O seu desespero está relacionado com o facto de que a sua forma de ser não é eficiente na manutenção de relações.

E no final, Anthy é - evidentemente - "Luxúria". Ela é aquela que todos desejam, aquela com mais poder, ela é o desejo e a fome sexual que apenas pode ser satisfeita e conquistada quando se ultrapassam os outros defeitos: assim que és capaz de te aceitar a ti próprio, serás capaz de formar relações sociais e, assim que as tens,  poderás encontrar o amor.



Voltaremos a isto mais tarde.

Rosa Negra - As Vidas dos Outros


 

Conquistamos os nossos problemas, mas a vida não é feita apenas por nós próprios. Os seres humanos são sociais e gregarios, independentemente do que algumas pessoas na internet possam dizer. Assim, as outras pessoas têm uma grande influência em como nos comportamos e em como mantemos tréguas com a própria vida.

Enquanto que é um pouco redutor resumir a sociedade que nos rodeia a categorias e estereótipos, o anime mostra-nos alguns temas que são recorrentes nas relações humanas. Alguns exemplos são: pessoa que não gostam de nós sem razão aparente; pessoas que se comportam de formas que não aprovamos; pessoas que têm ciúmes de nós; pessoas que são nossas amigas.

Pegando neste ponto, falamos de Wakaba. Amigos vêm e vão, alguns ficam para sempre. Na verdade, temos sempre problemas com os nossos amigos mais cedo ou mais tarde. Às vezes resolvemo-los, outras vezes não. Este duelo representa aquela discussão que tivémos com o nosso amigo, quer seja sobre uma coisa importante ou sobre uma coisa parva, isso não interessa. O que interessa é que no final sempre há uma solução, seja ela negativa ou positiva.

O instigador destes duelos, Mikage, quer ficar com a Noiva Rosa. Lembram-se daquela altura em que pensavam que o mundo inteiro estava conta vocês e que eras o único que tinha razão? É isso Mikage. Derrotá-lo é a conclusão de que não, o mundo não te odeia e que, na verdade, somos todos irrelevantes na grande ordem do universo.

Boleia para o Futuro


Conheces-te a ti próprio e conheces o mundo que te rodeia. O que vem a seguir? Ninguém sabe. E é sobre isso que trata este arco.


Carros podem parecer um objecto muito estranho para incluir no cenário, mas se olharmos para eles dentro do contexto fazem muito sentido. Ter um carro (e falo por experiência própria), é um bilhete para a liberdade. Com um carro, podes ir onde quiseres com quem quiseres. é um sinal de que és mais independente e mais responsável. Os carros representam, no contexto de Revolutionary Girl Utena, a vida a dulta e o estado final da nossa evolução enquanto seres sociais.

Mesmo quando já aceitámos quem somos, por vezes ainda nos sentimos inseguros sobre nós próprios. Temos de lutar e conquistar tudo outra vez. Lutamos para a manutenção do presente de forma a podermos avançar para o futuro.

Isto serve como explicação para os símbolos relativos aos personagens, mas há mais no anime para além deles. Vou agora referir-me aos outros elementos.
Arte


Revolutionary Girl Utena passa-se num ambiente escolar, mas esta escola é bastante diferente do que estamos habituados a ver. O cenário é surreal e está recheado de detalhes que, cada um deles, têm um significado intríseco e intricado.

Como todos sabemos, os sonhos são simbólicos e cada objecto num sonho tem um significado. O mesmo acontece com o cenário do anime. Mas e agora, quem está a sonhar este sonho? Utena. Esta história, este conto de fadas, não está a acontecer na realidade. É um sonho, o sonho de Utena. Não faz sentido conectar o cenário a uma realidade alternativa, porque nada aqui é real.

Nem tudo é perfeito. A animação falha por vezes, o que faz sentido para uma série longa dos 90s. Existem muitas cenas repetitivas. No entanto, esta repetição também dá espaço para a insistência no assunto, um sentimento de terror e desespero, a parte em que o sonho se torna em pesadelo.

O facto de que não há sentido espacial nesta escola, cheia de salas que mudam de lugar e forma, adiciona ao sentido de surrealismo patente na série. Acredito que isto não é um erro: é feito de forma propositada.

O estilo é único, mas também característico do género (shoujo). Traços finos, tudo muito clássico e ornamentado, adicionando à beleza do design básico.

Música

Os temas são recorrentes e característicos, adicionando ainda mais ao citado sentido de "pesadelo".

O tema do duelo, que se vai manter nas nossas mentes para sempre, também é extremamente simbólico, pois refere-se a temas como a evolução e a mudança.

Mas nem tudo é trágico...



A série é longa e tem cita muitos assutnos que são dolorosos e difíceis de enfrentar. No entato, nem tudo na vida é triste, pelo que existem muitos momentos de alívio cómico. Acredito que estão bem integrados com o progredir da história, pois actuam como "lufada de ar fresco", permitindo-nosT digerir o que aconteceu e preparar-nos para o que virá a seguir.

Conclusão
Revolutionary Girl Utena é um excelente exemplo de surrealismo aplicado ao anime, tocando em assuntos que normalmente são evitados de forma elegante. É uma obra de arte, altamente detalhado e muito bem pensado, da sua concepção à sua execução. Este facto ultrapassa largamente as falhas. Acredito que o posso recomendar a todas as pessoas interessadas em saber um pouco mais sobre anime ou que simplesmente queiram ver um pedaço de animação extremamente interessante.




Nota 1:  A quem não viu este anime, por favor, pelo amor de tudo o que é sagrado, não passe os recaps à frente. São muito importantes.

Nota 2: Termino esta entrada com o meu cosplay de Rose Bride Utena. Mais está para vir, mantenham-se sintonizados :)


Esta música foi feita com inspiração em Utena e utilizada numa apresentação de cosplay, para o ECG no Anifest. Foi feita juntamente com o meu amigo R., detentor do projecto Ocaso - que deveriam ir ver, porque é giro. :3

17.1.14

Catch-22

Catch-22
Joseph Heller
1961
Romance

Agora com o meu fofinho Kobo, posso ler tudo quanto existe, sempre que quiser! Por isso, decidi olhar para umas listas de recomendação e tirar de lá algumas ideias. Tal como no anime, a maioria dos títulos sugeridos já me eram familiares e desses a grande maioria já os tinha lido. Mas há alguns que me faltam e por isso comecei logo a pô-los na poderosa máquina. O primeiro foi este.

Catch-22 é um livro sobre a guerra. Mas de uma perspectiva um pouco diferente. Ao longo do livro acabamos por nos situar na Segunda Guerra Mundial, apesar de tudo parecer um pouco "moderno". Onde é que, então, este livro se distingue? Porque é uma comédia. E não é uma comédia qualquer: é uma comédia absurda. E quem sabe o que é o absurdo sabe também que normalmente ele não é suposto fazer rir.

Mas faz. Faz sempre. No caso deste livro, as situações ilógicas seguem-se umas atrás das outras, com recurso a diálogos circulares que levam à exasperação absoluta, transmitindo assim a ideia do horror que é a guerra e do horror que são os interstícios entre os pelotões e as relações burocráticas entre cada elemento da hierarquia. Existem algumas cenas mais explícitas de eventos que acontecem na guerra. Pessoas desaparecidas, pessoas mortas, todas essas situações descritas num detalhe que não descura a característica principal do livro, a repetição de conceitos e palavras até eles perderem o significado, de forma a que o seu uso não é "o da palavra" mas sim o "do sentimento", sentimento esse de terror e frustração.

Apesar de tudo, existem algumas partes que me fizeram rir. Existem outras partes que me fizeram dar gargalhadas e rebolar pelo chão do gabinete (local onde leio durante o tempo de almoço, né?) As minhas partes preferidas foram a do Major Major Major Major, a morte do Doc Daneeka e o julgamento do capelão.

No geral, uma boa leitura. Acho que posso recomendar, apesar de não o considerar - como muitos - um clássico imperdível.

7.1.14

The Hunger Games

The Hunger Games
Suzanne Collins
2008
Ficção-Científica

Queria ler este livro desde o meu estágio curricular, em que a minha colega comprou a trilogia. Tinha mesmo muita vontade de o ler! Por isso, ao receber o meu lindo e maravilhoso e-reader Kobo, foi o primeiro livro que arranjei!

Começo pelo Kobo. Não há bicho mais lindo que ele. A ver se ponho aqui uma foto mais tarde. É super leve, pequenino, fofinho, é táctil, é a preto e branco, só leva livros, dá para arranjar montes de livros na loja do Kobo a preços muito mais baratos. São assassinadas menos árvores a longo prazo. Tem dicionário incorporado. Só não tem luz, mas nada que não se resolva. Adoro-o e já tenho uma série de livros prontos para serem lidos nele. Não que eu vá abandonar para sempre o formato papel, mas isto realmente dá muito mais jeito. Por exemplo, estou a transportar esta trilogia de 800 páginas mais outro livro dentro da mala. E a capinha que a minha irmã me deu para fazer complemento também é toda jeitosa! E ele é cor de rosa por trás! =D

Mas o livro.

Num universo distópico, pós-apocalíptico, a América do Norte (Panem) é dominada pelo Capitol. Para provarem que mandam em tudo, eles organizam todos os anos os chamados Hunger Games, jogos de morte em que um rapaz e uma rapariga de cada terra (Distrito) são enviados para se matarem uns aos outros. Katniss acaba por ir parar aos Hunger Games. Mas ela tem uma vantagem: no Distrito dela, o Distrito 12, ela caçava com arco e flecha. Ela sabe mexer-se. Eu só penso... Se tivesse de ser eu a ir (ainda bem que já passei a idade), morria logo, que não tenho talento para nada de útil num cenário de guerra.

Foi um livro que adorei ler, apesar de - com toda a objectividade - não ser nada por aí além. Manteve-me sempre colada a ele, desejosa de continuar, desejosa de saber o que vinha a seguir. O livro conta em detalhe o que são estes Hunger Games: no fundo são um reality show em que as pessoas morrem. E realmente, só falta fazerem esse tipo de reality show. As pessoas iriam adorar. Existem alguns temas, como a exploração e a pobreza extrema, que são abordados, mas acabam por não ser o tema mais importante da história. A forma como tais temas estão descritos é, no entanto, feita com talento: são as considerações sobre a vida de Katniss, histórias do seu passado, que ilustram como as pessoas vivem fora do Capitol e como têm vidas difíceis.

As relações entre os personagens, colocados sobre tensão constante, acabam por ser bastante bonitas. Gostei especialmente de Rue e da forma como lutaram contra o sistema. No fundo, este é um livro sobre como lutar contra um sistema, um sistema injusto e corrupto a ponto de não respeitar a vida e a condição humana, ridicularizando-a e denegrindo-a.

O final soube a pouco e deu-me logo vontade de continuar para Catching Fire, o segundo volume. Mas resisti (gosto sempre de fazer um intervalo entre livros de uma série). Também me deu muita vontade de ver o filme, porque o livro é sem dúvida cinematográfico. As descrições são quase feitas para o ecrã, acabando por não ser muito exactas e deixando muito ao nosso critério. Mmm, vendo desta forma, talvez não seja boa ideia ver o filme. Espero que não me desaponte!

2.1.14

Onde Vivi e Para que Vivi

Onde Vivi e Para que Vivi
Henry David Thoreau
1854
Ensaio

Pequeno ensaio recuperado da convenção do BookCrossing do ido ano de 2013. Também o primeiro livro de 2014.

Secção de um livro maior, este é um pequeno relato da vida natural, com as consequentes reflexões sobre a vida e sobre a sociedade da época, a Americana do século XIX. O livrinho, apenas 90 páginas, tem duas partes de reflexões. Uma é sobre a sociedade e a vida humana. É bastante estranha, por vezes irritante, pois o autor refere demasiadas vezes como há pessoas selvagens e mais atrasadas na escala evolutiva, usando esses "factos" como contraponto para a desgraça humana do materilismo. É certo que isto é de há dois séculos e que nessa altura acreditava-se plenamente que havia seres humanos superiores e inferiores, mas não deixa de ser uma leitura bizarra. A segunda parte é muito mais interessante e bonita. O autor, que explicara como tinha mudado uma casa de sítio para a colocar à beira do lago Walden (também o nome da obra original de onde foi retirado este excerto), fala da vida natural à sua volta. É muito giro ler sobre os vários habitantes da floresta que ele conhece ao longo do tempo e da consequência filosófica que têm os seus comportamentos.

Um livrinho giro, já não lia ensaios deste género há algum tempo.

Creio que o irei libertar ao vento, dado que não tenho destino para lhe dar.